Emissão de gases traz novas pistas sobre o fim da vida das estrelas

Módulo
de carga útil do Herschel consiste no telescópio e no criostato que
contém o banco óptico. Escudo solar protege equipamento da insolação e
da luz difusa da Terra – Ilustração: Divulgação / The Herschel Space
Observatory
As
nebulosas planetárias (NPs) representam uma fase-chave da evolução
estelar, o final da vida de uma estrela de baixa ou média massa. A
partir das observações do telescópio espacial Herschel, um grupo
internacional de astrônomos detectou uma rara emissão laser de gases no
centro da nebulosa planetária Menzel 3, também conhecida como Nebulosa
da Formiga. Além de indicar as condições físicas e a provável estrutura
do gás, esta detecção aponta que a estrela central que produziu a
nebulosa planetária tem uma estrela companheira (ou seja, faz parte de
um sistema estelar binário). Essa descoberta poderá auxiliar futuros
estudos sobre o material expelido em sistemas estelares múltiplos no
centro de nebulosas planetárias. A pesquisa foi liderada por Isabel
Aleman, pós-doutoranda do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP.
.
Nebulosas planetárias são formadas pelo gás
e poeira ejetado por estrelas de pequena e média massa (aproximadamente
de uma a oito massas solares) no final de sua vida. “O Sol, por
exemplo, irá formar uma nebulosa planetária daqui a uns 5 bilhões de
anos”, afirma Isabel. Enquanto as camadas externas da estrela são
ejetadas para o meio interestelar, seu núcleo se torna uma estrela
compacta chamada de anã branca. “Essas estrelas têm temperaturas
superficiais muito elevadas, na faixa de 50 a 200 mil graus Kelvin (K), e
sua radiação ilumina, aquece e ioniza o gás expelido. Esse material
emite um espectro de radiação que pode revelar as espécies que o
compõem, assim como sua estrutura e condições físicas, como, por
exemplo, a distribuição de densidade e temperaturas.”
No trabalho, descrito em artigo da revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society,
foram utilizadas observações coletadas pelo Observatório Espacial
Herschel. “O Herschel é um telescópio espacial desenvolvido e operado
pela Agência Espacial Europeia (ESA), com contribuição significativa da
Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos
(Nasa)”, conta Isabel. O satélite com o telescópio foi lançado em maio
de 2009. Planejado para durar três anos, ele ficou em operação por cerca
de quatro anos, até o líquido necessário para resfriamento do sistema
acabar, em 2013. “Esse telescópio observou a emissão dos objetos na
faixa do infravermelho e submilimétrico do espectro de radiação.”
.
O grupo de pesquisadores havia observado 11
nebulosas planetárias com o Herschel. “Ao inspecionar as observações,
notei que o espectro da Menzel 3 era diferente do habitual, por
apresentar emissão das chamadas linhas de recombinação de hidrogênio,
compostas do gás ionizado pela radiação da estrela central”, relata
Isabel. Essa emissão não é normalmente vista nos espectros de nebulosas
planetárias dentro da faixa de comprimentos de onda observada pelo
Herschel (infravermelho distante ao submilimétrico). “A análise dessa
emissão mostrou que sua intensidade é amplificada por efeito laser, o
que só acontece em condições muito específicas.”
Efeito laser
O efeito laser é a amplificação da
intensidade de um feixe de radiação de um determinado comprimento de
onda ao atravessar um material com certas propriedades. “Esse efeito só
ocorre com certas combinações de comprimento de onda da radiação
incidente e material. Daí ser uma emissão rara”, explica a pesquisadora.
“O gás é ionizado pela radiação que vem da estrela central, sendo
composto, majoritariamente, de hidrogênio. Portanto, a fonte da emissão
laser é o gás ao redor da estrela, que também é o material atravessado.”
Isabel ressalta que o estudo das nebulosas
planetárias contribui para a compreensão da evolução estelar, que é um
dos temas centrais da astronomia. “Além disso, nebulosas planetárias
produzem uma importante contribuição para o gás e poeira do meio
interestelar. Elas participam do ciclo da matéria na galáxia: estrelas
se formam do gás ao meio interestelar e, no final de suas vidas,
devolvem esse material processado ao meio”, diz. “O gás ejetado permite
estudar como as estrelas processam o gás que as compõem, assim como os
processos que ocorrem após sua ejeção.”
.
.
Isabel destaca que “esta pesquisa, em particular, demostrou que a emissão laser de hidrogênio pode ser esperada no centro de nebulosas planetárias que apresentam sistemas binários”. A emissão revela um gás cujas condições não podem ser estudadas pela emissão usualmente observada em nebulosas planetárias. “O laser de hidrogênio é então mais uma ferramenta que pode ser utilizada para o estudo desses objetos, em particular em regiões próximas às estrelas centrais, onde as densidades são mais de 10 mil vezes as densidades do gás típico de nebulosas, como o observado nos lóbulos da Menzel 3.”
Isabel destaca que “esta pesquisa, em particular, demostrou que a emissão laser de hidrogênio pode ser esperada no centro de nebulosas planetárias que apresentam sistemas binários”. A emissão revela um gás cujas condições não podem ser estudadas pela emissão usualmente observada em nebulosas planetárias. “O laser de hidrogênio é então mais uma ferramenta que pode ser utilizada para o estudo desses objetos, em particular em regiões próximas às estrelas centrais, onde as densidades são mais de 10 mil vezes as densidades do gás típico de nebulosas, como o observado nos lóbulos da Menzel 3.”
Além disso, a presença de laser de
hidrogênio reafirma a teoria de que há um disco de poeira no centro da
Menzel 3, o que é evidência de um sistema estelar binário (duas estrelas
orbitando uma a outra). “As características do sistema binário no
centro de Menzel 3 ainda não são bem conhecidas. Para obter maiores
detalhes, serão precisas novas observações futuras e modelos mais
detalhados”, aponta. “O que sabemos até agora é que, além da estrela anã
branca, que gerou a nebulosa planetária, deve haver uma outra estrela
massiva que está expelindo material de suas camadas exteriores.”
.
Mais informações: bebel.aleman@gmail.com, com Isabel Aleman.
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