Identificada proteína que inibe a criptococose, infecção fúngica
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Pessoas com a imunidade comprometida, como é o caso de pacientes com Aids ou em tratamento quimioterápico, correm um risco que vem do ar: a criptococose. A infecção fúngica, transmitida a partir das fezes de aves (principalmente pombos) contaminadas com a levedura Cryptococcus neoformans, pode resultar em pneumonia e meningoencefalite (inflamação do sistema nervoso central).
Pessoas com a imunidade comprometida, como é o caso de pacientes com Aids ou em tratamento quimioterápico, correm um risco que vem do ar: a criptococose. A infecção fúngica, transmitida a partir das fezes de aves (principalmente pombos) contaminadas com a levedura Cryptococcus neoformans, pode resultar em pneumonia e meningoencefalite (inflamação do sistema nervoso central).
Embora a doença seja uma das mais importantes infecções promovidas
por fungos no Brasil, o tratamento tradicional – com um medicamento
usado há mais de 50 anos – é lento se comparado a infecções bacterianas e
não é muito eficaz. Estima-se que 30% dos pacientes não respondam ao
tratamento, que pode durar até dois anos.
Uma nova pesquisa acaba de abrir um leque de possibilidades para o
desenvolvimento de novas terapias para a criptococose. Os cientistas
descobriram que a proteína galectina-3 – presente em humanos e em
diversos outros animais – contribui para a defesa do hospedeiro contra a
infecção por C. neoformans.
O estudo, publicado na Nature Communications e apoiado pela Fapesp, comparou a severidade da doença em camundongos deficientes em galectina-3 com camundongos selvagens.
“Verificamos que a galectina-3 induz o direcionamento da resposta
imune, regulando a defesa do hospedeiro contra o fungo. Descobrimos que a
proteína rompe a membrana [processo conhecido como lise] das vesículas
extracelulares, que são estruturas usadas pelo fungo para exportar suas
moléculas”, disse Fausto Almeida, do Departamento de Bioquímica e
Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O estudo é o primeiro a descrever o papel da galectina-3 na
criptococose. Estudos anteriores mostraram outras atuações da proteína,
como na homeostase ou em células tumorais. Os autores destacam uma
característica peculiar da galectina-3: dependendo do tipo de infecção
ela pode ser benéfica para o hospedeiro ou para o agente. “Sua atuação
muda muito dependendo do tipo de infecção e do tipo de patógeno”, disse
Almeida.
O C. neoformans é um modelo importante para estudos em
biologia celular. O patógeno produz vesículas extracelulares nas quais
submete seus principais fatores de virulência. As vesículas cruzam a
parede celular para alcançar o espaço extracelular, facilitando a
entrega de moléculas do fungo nos tecidos do hospedeiro.
O grupo promoveu então uma infecção experimental em camundongos e
constatou que também havia galectina-3 aumentada não só no soro, mas
também nos tecidos do cérebro, pulmão e baço. Na comparação entre
animais deficientes de galectina-3 e o grupo controle, verificou-se que
os com pouca galectina-3 eram mais suscetíveis à infecção.
“As análises mostraram que os camundongos com deficiência de
galectina-3 apresentaram maior carga fúngica e, consequentemente,
tiveram uma sobrevida menor”, disse Almeida.
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Direcionando a resposta imunológica
Após descreverem o mecanismo de atuação da galectina-3, os
pesquisadores da FMPR constataram que a proteína tem um papel
fundamental no direcionamento da resposta imunológica.
“A proteína inibe o crescimento do fungo e reduz a estabilidade das
vesículas extracelulares, responsáveis por transportar o material
biológico que o fungo precisa para instaurar a infecção no hospedeiro.
As moléculas exportadas direcionam a patogênese da infecção, porém, a
galectina-3 tem o papel imunomodulador”, disse Almeida.
Ao romper a membrana das vesículas, a proteína auxilia o sistema
imune do hospedeiro a perceber que há uma infecção. “Ainda estamos
investigando quão benéfica essa lise pode ser. Se por um lado ao
reconhecer a infecção com a lise das vesículas seria possível combater o
fungo, por outro ela poderia causar uma baixa na imunidade do
hospedeiro e aumentaria a infecção”, disse.
“Porém, quando analisamos macrófagos sem galectina-3, a absorção
dessas vesículas foi muito menor. Cabe à galectina-3 o papel de
reconhecer a infecção a partir da lise das vesículas e, com isso,
direcionar a resposta imune”, disse Almeida.
O artigo Galectin-3 impacts Cryptococcus neoformans infection through direct antifungal effects (doi:
10.1038/s41467-017-02126-7), de Fausto Almeida, Julie M. Wolf, Thiago
Aparecido da Silva, Carlos M. DeLeon-Rodriguez, Caroline Patini Rezende,
André Moreira Pessoni, Fabrício Freitas Fernandes, Rafael Silva-Rocha,
Roberto Martinez, Marcio L. Rodrigues, Maria Cristina Roque-Barreira e
Arturo Casadevall, pode ser lido na Nature Communications em www.nature.com/articles/s41467-017-02126-7.
Maria Fernanda Ziegler / Agência Fapesp
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