Telescópio brasileiro tem papel importante em descoberta associada ao Nobel de Física
Telescópio T80-Sul – Foto: Divulgação/IAG USP
Na segunda-feira, 16 de outubro de 2017, às 12h, descobertas referentes às
ondas gravitacionais são tema de uma coletiva de imprensa no Instituto
de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Os novos
achados contaram com a participação do telescópio brasileiro T80-Sul.
O evento vai apresentar fatos inéditos associados ao objeto do prêmio
Nobel de Física 2017, falar sobre a participação do Brasil nos
resultados e postular a relevância da capacidade do telescópio T80- S. A
coletiva será realizada simultaneamente com a União Astronômica
Internacional (IAU) e pelo observatório astronômico Ligo, com apoio da
Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e da Rede Paulista de Astronomia
(Spanet).
Cerca de 18 cientistas brasileiros estão envolvidos, com a
colaboração de seis instituições brasileiras e um investimento de mais
de US$ 2,5 milhões. “Estamos muito satisfeitos com os frutos colhidos
pelo projeto do telescópio T80-S, logo no início de seu funcionamento já
fazendo parte desta descoberta histórica”, conta a astrônoma Claudia
Mendes de Oliveira, do IAG, coordenadora principal do telescópio.
Telescópio T80-Sul
O T80-S é um telescópio robótico localizado na região dos Andes
chilenos, capaz de fazer observações em 12 filtros ópticos (o dobro dos
telescópios em atividade hoje) e de forma autônoma – um dos seus
grandes diferenciais. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Observatório Nacional
(ON).
A coletiva de imprensa poderá ser acompanhada ao vivo neste link.
No dia 17 de agosto de 2017, os interferômetros Ligo (do inglês Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory)
e Virgo detectaram pela primeira vez ondas gravitacionais emitidas pela
colisão de duas estrelas de nêutrons. Esta é a quinta vez que este tipo
de onda foi identificado pelos aparelhos — uma série de descobertas que rendeu um Nobel de Física aos cientistas Kip Thorne, Rainer Weiss e Barry C. Barish — mas esta é a primeira vez em que a fonte da emissão é a fusão de estrelas, e não de buracos negros.
Além das
ondas gravitacionais detectadas pelos equipamentos Ligo e Virgo, o
satélite Fermi, da Nasa, também captou, com uma diferença de dois
segundos, ondas eletromagnéticas em forma de raios gama provenientes do
mesmo evento. Após as detecções, a corrida para identificar o objeto
resultante da colisão começou. E o telescópio brasileiro T80-Sul,
localizado em La Serena, no Chile, fez parte desta campanha para
encontrar e caracterizar o fenômeno no céu.
Rodrigo
Nemmen, Raul Abramo, Laerte Sodré Jr, Alberto Molino e Claudia Mendes
Oliveira durante a coletiva de imprensa no Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP que abordou a descoberta –
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Com a
colisão das estrelas de nêutrons, foi formada uma kilonova, objeto que,
devido ao seu decaimento radioativo, tem uma forte queda de seu brilho
ao longo do tempo e acaba formando novos elementos químicos neste
processo.
A kilonova
foi encontrada na galáxia NGC 4993, na constelação de Hydra, a 130
milhões de anos-luz da Terra. A fusão das estrelas de nêutrons liberou,
primeiro, ondas gravitacionais e, em seguida, houve a formação de um
jato de partículas relativísticas, que emitiu os raios gama detectados
pelo Fermi.
O T80-Sul
Apesar de
estar localizado no Chile, o telescópio T80-Sul é um projeto brasileiro,
financiado em sua maior parte pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), mas também pelo Observatório Nacional
(ON), USP, Universidade Federal de Sergipe e de Santa Catarina. O
instrumento foi construído na região dos Andes Chilenos por causa da
altitude e das condições atmosféricas do local, ótimas para observações
astronômicas.
Telescópio T80-Sul – Foto: Divulgação/IAG USP
O projeto
T80-Sul iniciou-se em 2010, mas tem funcionado efetivamente há cerca de
um semestre, quando começou a fazer o mapeamento do céu austral Southern Photometric Local Universe Survey (S-PLUS).
A descoberta histórica em questão rendeu dois artigos científicos sobre
a colaboração brasileira para ciência internacional, o que anima ainda
mais os pesquisadores participantes.
Trinta e
cinco horas após a detecção das ondas gravitacionais, o telescópio
conseguiu fazer imagens da kilonova, que agora não pode mais ser
observada, por conta do decaimento de luz após o evento.
“É muito
importante essa inserção da ciência brasileira no cenário
internacional”, afirma Claudia Mendes de Oliveira, coordenadora do
T80-Sul e professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas (IAG) da USP. “É um esforço conjunto, de uma parceria
internacional. A sólida contribuição de um grupo de brasileiros em algo
que cientistas do mundo todo estão colaborando é muito importante.”
O
diferencial do T80-Sul em relação a outros telescópios é o seu grande
campo de observação no céu e a possibilidade de observá-lo com 12
filtros. Normalmente, a maioria dos telescópios tem apenas 5 destes
filtros.
O T80-Sul
foi construído por duas empresas, uma belga e a outra alemã, e é
idêntico a um telescópio localizado na Espanha, o T80-Norte. “Juntos,
eles cobrirão uma área enorme do céu. Quando terminarmos nosso projeto
de mapeamento [o S-PLUS] e
o Norte tiver terminado o dele, os bancos de dados do projeto formarão
uma valiosa fonte para estudos de diversos tipos de ciência. Será muito
importante para estudar desde o sistema solar até a cosmologia”, prevê
Claudia. “Ambos os instrumentos terão mapeado dois quintos do céu ao
final do processo.”
Mais informações: e-mail claudia.oliveira@iag.usp.br
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